5 de junho de 2014

Amante do amor



por Moema Ameom em 5/6/2014

Transformei-me gradativamente em amante do meu amor.

Tudo teve início quando comecei a me relembrar dos tempos de namoro quando ele me ensinava a descobrir saídas ao sentir-me encurralada, perdida nas emoções de adolescente, sem nem mesmo saber identificar o que sentia.

Estendia-me suas mãos e conduzia-me pelos corredores sombrios da imaginação, fazendo-me dançar as melodias difusas do espírito em conflito.

Havia momentos em que se transformava em paixão ampliando os impulsos no caos. Sufocava-me; fazia-me perder o rumo, o chão e o foco.

Foram estes momentos que acabaram me levando a aprisioná-lo dentro de mim. Tudo em nome de atitudes mais normais, educadas, sociais; acreditei que assim fazendo encontraria o tão exigido controle.

Casei com meu amor; impus-lhe regras e dogmas. Resolvi domá-lo, ou melhor, domesticá-lo. Passei, com estas propostas, a utilizar tudo que ele me dava em prol da tão desejada busca pelo equilíbrio.  Surgiram os medos sem sentido. Não podia senti-los sob pena de perder o casamento.

Impus-lhe condições cada vez mais restritas.

Meu amor contorcia-se com tanta violência dentro de mim, que as do(r)enças passaram a dilacerar as vísceras; contorcia-se a mente; a alma morria aos poucos des.animada diante de tanta prisão.

Existiam momentos, porém, em que sua incondicionalidade tomava conta de mim. Quando dançava ou representava nos palcos; quando era profissional da arte. Minhas personagens libertavam meu amor do jugo da sociedade.

Até o momento em que gestei dois seres.

Ganhei tanto amor dentro do meu amor que transbordei. Mergulhei. Nadei nas turbulentas ondas da maternidade quando ainda nem sabia como seriam as da maturidade.

Mas ele, meu amado companheiro, pacientemente conduziu-me à luz de uma consciência plena de dúvidas onde acertos e erros entrelaçaram-se nos sons do coração.

Foi assim, embalada pelas cantigas dos risos, choros, gargalhadas e berros que fui redescobrindo o meu amor.

Hoje sou sua amante até que a eternidade nos reúna diante da morte permanente. Não há compromissos além do amor.

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