12 de agosto de 2013

REUNIÃO FAMILIAR


Por Moema Ameom

Nada melhor do que uma reunião familiar para aprendermos muito sobre nós mesmos. Os presentes e ausentes tornam-se mestres ao transmitirem ensinamentos através de ações e reações espelhadas nos olhares, esgares, expressões, atitudes e movimentos somáticos; legados gravados na medula. Ontem fui abençoada com um riquíssimo momento de fortes aprendizados. Dia dos Pais!

Os pais dos pais refletiam-se, espelhavam-se e mostravam os processos de adequação aos novos tempos e os desejos de os transformarem. Os esforços visíveis para construção de harmonia sinalizavam o distanciamento criado pelas emoções não vivenciadas a contento. 

Eu, mera espectadora, fui colhendo dados para o meu amadurecimento. A Psiquê aquietada na paz do meu Soma, permitiu-me gerar olhares limpos de julgamentos e críticas. Pude perceber os seres humanos através de suas máscaras. Captei a tensão gerada pelos ausentes que, com seus jogos de fragilidade emocional, teimam em enfraquecer as almas presentes. Nada fácil perceber esta rede de relacionamento que mina o Soma qual erva daninha em jardim frondoso!

De toda esta rica e proveitosa vivência compartilhada no/com meu fluxo orgânico, alguns pensamentos inquietantes foram surgindo instigando o ajuste das redes de meu Sistema Nervoso Periférico; o Central agradeceu!

Coloco aqui os questionamentos que me fiz com o intuito compartilhar a (in)quietação e, como não desisto nunca (sou brasileira), quem sabe poder construir algo mais.

1-      Porque raramente vemos olhares se fixando quando há palavras? Falamos ao outro olhando a quem? Antes que me digam que é imaginação minha...será que já parou para observar este pequeno detalhe em você? Por acaso sente os movimentos de seus olhos? Sabe onde o foca ? Para além da tela do Computador e derivados, para onde vai sua visão?

Fiquei observando o olhar de meu neto Luke que em seus três meses de matéria tanto ensinava sobre o que vem a ser foco. Minha neta Lavínia na maturidade de seus três anos bem vividos, focava e desfocava captando o que lhe servia deletando o excedente. Em sua verbalização, o brilho da consciência sobre seus movimentos.

2-      Porque o riso significa alegria? Porque espasmos de contração corpórea diante do forte latido de um cão é considerado e diagnosticado como sendo “medo” ou “susto”? Por que não conseguimos ver apenas como sendo reações? O que nos faz embotar o raciocínio diante do óbvio? Como pode um bebê saber o que vem a ser medo, susto, alegria? De onde ele irá extrair estes conceitos? Por que não deixá-los descobrir sozinhos criando seus próprios códigos? Se assim o fizessem será que as heranças genéticas poderiam ser vistas apenas através dos genes ? Desde quando genes nos dá felicidade? Criam pensamentos e conceitos? Porém...

3-      O que faríamos dos nossos movimentos sem a formatação do mimetismo? Copiar é bem mais fácil que Criar. Orientar para a copia satisfaz o Ego (de quem orienta); a criação fortalece o Id. Dar apoio para o crescimento do Id significa respeitar o biorritmo. Na pressa dos dias de hoje onde tudo tem que ser pra ontem, onde a excitação e a ansiedade fazem parte do cotidiano, como aprender a respeitar? Tudo é bem aceito quando segue os padrões que nos agrada; quando saímos deles, os olhares tornam-se obscuros e a raiva transborda pelos poros. Não há necessidade de palavras para serem assimilados e absorvidos. Forma-se assim o (in)consciente.

4-      Clama-se por liberdade de expressão! Fazem-se revoluções em nome dela! O que vem a ser isso? Esta coisa? Esta manifestação da alma? Quando penso nela me vem a imagem do pássaro. Pode até ser o melhor símbolo da Liberdade....abrir as asas e voar! Hoje em dia, tendo dinheiro, o Homem vai de avião para onde quiser. Será mais livre do que os Homens de ontem que andavam a cavalo ou a pé?

Uma vez em excursão com jovens pela montanha disse-lhes: “Não se prendam ao meu tempo. Sigam no de vocês. Iremos nos reencontrar na cachoeira.” Lá foram eles curtindo a liberdade da potência das pernas movidas pela ansiedade de chegar mais rápido. Para preencher meu tempo fui observando tudo que se passava por mim. Em alguns trechos precisei sentar-me nas pedras para respirar melhor; noutras fiquei alguns momentos observando borboletas, formigas, folhas que dançavam ao vento. Quando alcancei o ponto de encontro já estavam comendo, banhando-se, felizes ....muito felizes alguns poderiam dizer, pois riam muito, cantava, conversavam sobre...? Não me lembro.

Ao chegar, sentei-me e comecei a falar sobre o que havia visto, presenciado, curtido, assimilado da minha caminhada. Pensei em compartilhar as vivências, mas ninguém havia visto o que eu vi. Aos poucos as expressões foram ganhando contornos diferentes daquelas consideradas como sendo “expressões de alegria” Foram ganhando reflexões; eu poderia chamar de tristeza, melancolia, depressão, mas para mim, naquele instante começou a haver a verdadeira comunicação.

Passamos a olharmo-nos nos olhos. Emoções pulularam! Na volta, caminhamos lado a lado.

5-      Voltando aos familiares... quantos daqueles ali presentes caminharam lado a lado? Quantos buscaram harmonizar seus tempos? Por que um tempo mais rápido é considerado errado daquele mais lento? Por que temos que alterar nossos ritmos em nome de uma convivência? Em uma banda de rock, poderá uma bateria tocar   no mesmo tempo de uma guitarra? Quando lemos uma partitura escrita para piano, o que é preciso fazer segui-la ao tocar um violino? Quando dizemos que o Maestro rege bem?

Alterar um tempo em prol do outro gera o que dentro dos organismos? Se você só é capaz de subir uma escada em 2/4, o que acontecerá aos processos dos aparelhos respiratório e circulatório se subir em 6/8 para acompanhar o outro? Se o fizer isto irá significar que o está acompanhando? Qual a qualidade desta parceria?

Poderia seguir adiante com meus questionamentos, mas tendo sido estes os que mais ajudaram a evoluir-me, resolvo parar por aqui. Os demais quase passam como sendo supérfluos. 
No mais, resta-me vibrar de felicidade por ter percebido meus netos começando a construir caminhos de ressonância harmônica entre eles apesar de todas as interpretações alheias trazendo á tona títulos como: ciúme, medos, insegurança, raiva e desajuste emocional. Qual de nós ali presentes poderiam sentar em volta de uma mesa (porque no chão jamais), para dissertar sobre estes temas olhando para seus próprios umbigos?

Eu me apresento para brincar de perder para se achar, homenageando meu pai!


12/08/2013