Por Moema Ameom
Nada melhor do que uma reunião
familiar para aprendermos muito sobre nós mesmos. Os presentes e ausentes tornam-se
mestres ao transmitirem ensinamentos através de ações e reações espelhadas nos
olhares, esgares, expressões, atitudes e movimentos somáticos; legados gravados
na medula. Ontem fui abençoada com um riquíssimo momento de fortes
aprendizados. Dia dos Pais!
Os pais dos pais refletiam-se,
espelhavam-se e mostravam os processos de adequação aos novos tempos e os
desejos de os transformarem. Os esforços visíveis para construção de harmonia
sinalizavam o distanciamento criado pelas emoções não vivenciadas a contento.
Eu, mera espectadora, fui colhendo dados para o meu amadurecimento. A Psiquê
aquietada na paz do meu Soma, permitiu-me gerar olhares limpos de julgamentos e
críticas. Pude perceber os seres humanos através de suas máscaras. Captei a
tensão gerada pelos ausentes que, com seus jogos de fragilidade emocional,
teimam em enfraquecer as almas presentes. Nada fácil perceber esta rede de
relacionamento que mina o Soma qual erva daninha em jardim frondoso!
De toda esta rica e proveitosa
vivência compartilhada no/com meu fluxo orgânico, alguns pensamentos
inquietantes foram surgindo instigando o ajuste das redes de meu Sistema
Nervoso Periférico; o Central agradeceu!
Coloco aqui os questionamentos
que me fiz com o intuito compartilhar a (in)quietação e, como não desisto nunca
(sou brasileira), quem sabe poder construir algo mais.
1-
Porque raramente vemos olhares se fixando quando
há palavras? Falamos ao outro olhando a quem? Antes que me digam que é
imaginação minha...será que já parou para observar este pequeno detalhe em
você? Por acaso sente os movimentos de seus olhos? Sabe onde o foca ? Para além
da tela do Computador e derivados, para onde vai sua visão?
Fiquei
observando o olhar de meu neto Luke que em seus três meses de matéria tanto
ensinava sobre o que vem a ser foco. Minha neta Lavínia na maturidade de seus
três anos bem vividos, focava e desfocava captando o que lhe servia deletando o
excedente. Em sua verbalização, o brilho da consciência sobre seus movimentos.
2-
Porque o riso significa alegria? Porque espasmos
de contração corpórea diante do forte latido de um cão é considerado e
diagnosticado como sendo “medo” ou “susto”? Por que não conseguimos ver apenas
como sendo reações? O que nos faz embotar o raciocínio diante do óbvio? Como
pode um bebê saber o que vem a ser medo, susto, alegria? De onde ele irá
extrair estes conceitos? Por que não deixá-los descobrir sozinhos criando seus
próprios códigos? Se assim o fizessem será que as heranças genéticas poderiam
ser vistas apenas através dos genes ? Desde quando genes nos dá felicidade?
Criam pensamentos e conceitos? Porém...
3-
O que faríamos dos nossos movimentos sem a formatação
do mimetismo? Copiar é bem mais fácil que Criar. Orientar para a copia satisfaz
o Ego (de quem orienta); a criação fortalece o Id. Dar apoio para o crescimento
do Id significa respeitar o biorritmo. Na pressa dos dias de hoje onde tudo tem
que ser pra ontem, onde a excitação e a ansiedade fazem parte do cotidiano,
como aprender a respeitar? Tudo é bem aceito quando segue os padrões que nos
agrada; quando saímos deles, os olhares tornam-se obscuros e a raiva transborda
pelos poros. Não há necessidade de palavras para serem assimilados e absorvidos.
Forma-se assim o (in)consciente.
4-
Clama-se por liberdade de expressão! Fazem-se
revoluções em nome dela! O que vem a ser isso? Esta coisa? Esta manifestação da
alma? Quando penso nela me vem a imagem do pássaro. Pode até ser o melhor
símbolo da Liberdade....abrir as asas e voar! Hoje em dia, tendo dinheiro, o
Homem vai de avião para onde quiser. Será mais livre do que os Homens de ontem
que andavam a cavalo ou a pé?
Uma vez em
excursão com jovens pela montanha disse-lhes: “Não se prendam ao meu tempo. Sigam
no de vocês. Iremos nos reencontrar na cachoeira.” Lá foram eles curtindo a
liberdade da potência das pernas movidas pela ansiedade de chegar mais rápido.
Para preencher meu tempo fui observando tudo que se passava por mim. Em alguns
trechos precisei sentar-me nas pedras para respirar melhor; noutras fiquei
alguns momentos observando borboletas, formigas, folhas que dançavam ao vento.
Quando alcancei o ponto de encontro já estavam comendo, banhando-se, felizes
....muito felizes alguns poderiam dizer, pois riam muito, cantava, conversavam
sobre...? Não me lembro.
Ao chegar,
sentei-me e comecei a falar sobre o que havia visto, presenciado, curtido,
assimilado da minha caminhada. Pensei em compartilhar as vivências, mas ninguém
havia visto o que eu vi. Aos poucos as expressões foram ganhando contornos
diferentes daquelas consideradas como sendo “expressões de alegria” Foram
ganhando reflexões; eu poderia chamar de tristeza, melancolia, depressão, mas
para mim, naquele instante começou a haver a verdadeira comunicação.
Passamos a
olharmo-nos nos olhos. Emoções pulularam! Na volta, caminhamos lado a lado.
5-
Voltando aos familiares... quantos daqueles ali
presentes caminharam lado a lado? Quantos buscaram harmonizar seus tempos? Por
que um tempo mais rápido é considerado errado daquele mais lento? Por que temos
que alterar nossos ritmos em nome de uma convivência? Em uma banda de rock, poderá
uma bateria tocar no mesmo tempo de uma
guitarra? Quando lemos uma partitura escrita para piano, o que é preciso fazer segui-la ao tocar um violino? Quando dizemos que o Maestro rege bem?
Alterar um tempo em prol do outro
gera o que dentro dos organismos? Se
você só é capaz de subir uma escada em 2/4, o que acontecerá aos processos dos
aparelhos respiratório e circulatório se subir em 6/8 para acompanhar o outro?
Se o fizer isto irá significar que o está acompanhando? Qual a qualidade desta parceria?
Poderia seguir
adiante com meus questionamentos, mas tendo sido estes os que mais ajudaram a
evoluir-me, resolvo parar por aqui. Os demais quase passam como sendo supérfluos.
No mais, resta-me vibrar de felicidade por ter percebido meus netos começando a
construir caminhos de ressonância harmônica entre eles apesar de todas as
interpretações alheias trazendo á tona títulos como: ciúme, medos, insegurança,
raiva e desajuste emocional. Qual de nós ali presentes poderiam sentar em volta
de uma mesa (porque no chão jamais), para dissertar sobre estes temas olhando
para seus próprios umbigos?
Eu me
apresento para brincar de perder para se achar, homenageando meu pai!
12/08/2013