11 de dezembro de 2012

Quando eu possava



Por Moema Ameom

Quando eu possava falar através do coração, grunhia, gemia, rosnava, ronronava, gargalhava, berrava, lambia, chupava, mordia e era chamada de bebê. Os que me rodeavam traduziam meu som e o denominava voz. Quase sempre irritante, por ser inquietante e misteriosa. Calavam-me, aquietavam-me porque, na maioria das vezes, não entendiam meu idioma.

Mais tarde vieram as palavras e seus conceitos. Era preciso aprender a língua pátria.

“Xê ecó etá. Xaramã ni eçaí xê apiçá om Y kuá ni Ita amuara xá xê xaramã. Uquirimbau y Perudá.”

 Não é esta! É aquela que nos foi ensinada como sendo a certa. Apesar de abrasileirada com nossa miscigenação, continuamos a chamar-la de português. Além mar!...

Lá atrás fomos educados, porque o que aqui fazíamos foi considerado falta de educação. Olhar o céu, admirar o vento, sentir a chuva escorrendo pelo corpo desnudo era promíscuo e pervertido. “Preguiçosos esses índios”...deviam dizer nossos colonizadores amarrados, retidos, aprisionados em suas regras oriundas do medo pela lobotomia.

Aprendemos a chamá-los estrangeiros... o que é estranho gera medo. Medo de aprender o que não conheço. Quando este medo surge, é mais fácil fazer o outro ficar igual a nós ou perdermos a identidade, inconscientemente, copiando o que é aceito como correto pela maioria.

Ensinaram-nos a termos medo de errar. A chibata que o diga!

Hoje falamos muito sobre educação. Eu me pergunto: “Qual delas?”
We must learn...Va bene. Come?

Se hoje eu fosse falar com a voz do coração (coisa comum de se pedir a todos) continuaria a usar os mesmos sons de bebê. Reagiria, agiria com impulsos livres e às vezes bem desarmônicos, fazendo ressonância com o Cosmo. Seria presa no manicômio ou considerada pela sociedade como mal educada.

Se fosse falar utilizando meus sons genéticos parlaria with all of sounds toguether comment Il faut.

Quem me compreenderia?
Alguém com sensibilidade o suficiente para absorver minh`alma e seus arroubos.

Quem?
Pois é, minha neta. Nós devíamos falar “eu podo”... daí “eu podia” ficaria mais coerente. Aliás o verbo é poder. Mas.... a coerência vinda de longe nos ensinou que é “eu posso”. I can. We can.
Certa....Mente!

Eu prefiro uquirimbau estar ao seu lado. Sempre!






11/12/2012

9 de dezembro de 2012

Minh`Arte



               O palco, para mim, é um templo e a arte, minha mais verdadeira e profunda religião.

É ela quem me religa ao divino da existência; ao imponderável, inexistente, inimaginável, inexplicável e impossível.

Vem dela o que me envolve e revolta; o que me faz brincar de ser.

Esta gota de conscientização que acaba de me complementar, possibilita-me ver, ao olhar para trás,os malefícios causados em mim, pela convivência com a mediocridade proveniente dos conceitos deturpadores da arte. 
Independentemente de qual seja o palco onde estou, seja ele a cozinha de minha casa, o ônibus que me leva ao trabalho, o supermercado, a pracinha onde observo minha neta brincando, o banheiro onde vou defecar, a praia, a montanha ou até mesmo aquele espaço que clareia e justifica o nome, a artista se manifesta no ato de respirar, superar, arriscar, ousar e amar!

Com pura magia o AR tudo transforma. Ele é o grande artista. O Deus Maior! Ele produz o sOM e este cria e recria as formas.

SIM. 
Foi longa e extenuante a caminhada! 
Foi densa, tensa e sufocante. 
Fiz-me refém e libertei-me! 
Sentei no banco dos réus, julguei-me, critiquei-me, aprisionei-me e muito me puni. Mas, agora, ab-solvida, acendo as luzes do meu camarim e, devidamente bem maquiada por minhas ex.pressões, visto o belo figurino que o tempo desenhou em minha pele e entro em cena sem precisar de aplausos. 

Vou para extrair o prazer do meu sucesso interior! Faço do vazio e do silêncio a perfeição!