13 de julho de 2015

Solidão X Isolamento


 Solidão não é isolamento.

Os processos vitais são construídos por células que, com seus movimentos solitários geram pulsações onde o concentrar e expandir produz respiração. Esta troca vibrante  cria seres vivos sozinhos em suas bolhas de existência. Cada processo de movimento vital existente no Sistema Solar é construído por vibrações solitárias em suas in.tensões. São elas responsáveis por atos como: acordar e dormir; nascer e morrer; ganhar e perder; comer e defecar; beber e urinar; chorar e rir; acariciar e bater; berrar e cantar; amar e odiar (para citar poucas das variadas contradições).

Solidão é algo inerente à trans.formação das matérias vivas. Para que aconteçam mutação e criação de renascimento permanente, (que podemos chamar de revitalização sistêmica), é preciso que haja solidão consciente. Saber-se só. Entender-se como sendo só na sua própria construção de ações e reações. Ouvir-se em seu  eco e assumir a responsabilidade de seus gestos atitudes e expressões. É preciso Ser só. Valorizar a solidão como sendo algo de onde nós, seres humanos, extraímos o roteiro da nossa existência.

A função primordial da solidão é, portanto, tonificar os sistemas vivos. O medo da solidão, no ser humano, traz inquietação, insegurança e fragilidade emocional conturbando a estabilidade e construindo incoerências nos passos sobre o Planeta Terra.  

Para que a solidão seja construída com sabedoria é preciso que não haja isolamento.

O medo da solidão está congelando os seres humanos em ilhas individuais; isola.ment(e)o.

O isolamento cristaliza todo e qualquer processo vital. Encapsula os movimentos de regeneração celular embutindo a mente e coibindo a in.evolução sistêmica. Isolar-se significa acumular medos de emoções. Nublar os sentimentos, dopar a alma e calar o espírito. Isolar-se significa amedrontar-se diante das vivências, encolher-se diante das possibilidades dos famosos “erros” que tantos enxergam. Isolamento é ato de covardia diante do pulsar da vida e da morte.

Sendo algo regido pelo organismo, nada ou pouco tem a ver com movimentos coordenados pela mecânica do Corpo Físico, por isso, manter contatos externos com muitas pessoas, vital ou virtualmente, não significa sair do isolamento. Muito pelo contrário: a quantidade de contatos externos, principalmente aqueles virtuais, na grande maioria das vezes, inibe o contato interno e, conseqüentemente, a solidão. Gera isolamento.

A solidão é o vazio que preenche. O isolamento, o cheio que esvazia.

Quando o náufrago chega à ilha, depois de conseguir emergir dos vagalhões de mares revoltos, é mais do que compreensível que queira se aquietar um tempo; porém, se não buscar motivações muito contundentes na sua alma, jamais sairá da ilha. Ficará isolado e perderá contato com a solidão.

Onde não há coragem para viver emoções, não há partilha. Não há possibilidades de afinação nas vibrações sonoras. Não há calor humano, não há expansão de visão, não há nem haverá jamais vontade de aprender algo novo. As verdades congelam e tornam-se absolutas; conceitos inflexíveis.

O isolamento dá ao Ser a sensação de preenchimento por permitir o desenvolvimento de idéias incontestáveis. O diálogo interno entre pensamento e sentimento torna-se tão conhecido que o reconhecimento se esvai. Fenece. E a desvalorização aflora.

Quanto mais cresce o desvaler, mais emerge o medo de partilha. Deste movimento contínuo brotam as doenças que corroem os pensamentos.

Pensamento fixado gera movimentos corpóreos mecanizados, repetidos sem chance de modificação. Sendo este o processo comandante de todos os demais, como sair do isolamento quando só aprendemos a dialogar com nossas próprias idéias? Quando não nos dispomos a ouvir o outro? Quando não nos vemos no outro?

Assim como cada instrumento de uma grande orquestra precisa ter sua própria afinação, cada um de nós, seres viventes do planeta Terra precisamos afinar nosso instrumento para que possamos fazer parte da Grande Orquestra Cósmica onde o maestro rege melodias que fazem ressonância harmônica com a solidão.



Moema Ameom
11/07/2015