18 de fevereiro de 2014

AMOR e MORTE





Por Moema Ameom

Gosto de falar sobre amor e morte por senti-los como sendo temas uníssonos e ressonantes. Vejo no amor a essência vital, onde a força da atração cria a existência ao gerar, com simplicidade, seus dois pulsares básicos: concentração e expansão. Amor é a potência cósmica formadora de matérias; é o princípio de aglutinação molecular; é a ponte que une cérebro e coração através da comunicação; é a união da ação à reação e vice-versa; é o iô-iô e a  ia-iá. Provoca atração e forma a tensão necessária para que hipo e hiper tônus possam construir movimentos.

A morte é a desaglutinação de todas estas propostas, que conduz as partículas nanoscópicas da matéria de volta ao éter...ou éter..nidade...tempo atemporal onde irão buscar inspiração para novas c(u)ore.o. grafias, novos espaços onde ensaiarão até a  próxima atração.

Portanto, são dois processos inseparáveis e complementares. Viver é o ato de observar a morte. A cada partícula de tempo existido, um novo tempo ressurge.

Portanto, o auto-amor, nada mais é do que o ato de captar, através da observação interior, o tempo de concentração e expansão que o organismo necessita para respirar. Quando nos descuidamos desta observação, o pulsar dos aparelhos autônomos se desregula e parte para a vivência do caos, onde sempre se aprende muito, através da ampliação do grau de perdas. Às vezes precisamos deixar morrer muitas coisas de uma só vez devido ao fato de termos guardado ganhos em nossas redes nervosas por medo de vivenciá-los a contento em nosso cotidiano. Nomes dados aos processos de retenção: estafa nervosa, estresse, esgotamento, ou, simplesmente, cansaço. “De grão em grão a galinha enche o papo.”

E isto é um fato corriqueiro em nós humanos.

Beau, o gato que convive comigo e minha mãe, por exemplo, sabe muito bem que, quando leva um susto muito grande, sofre uma pressão do gato da vizinha, ou sofre a perda de uma companheira, é preciso um tempo de descanso bem grande. Todas as mudanças, por senti-las com a intensidade da verdade, dão ao seu Sistema, um tempo de reflexão.

E nós humanos, o que fazemos?

Perdemos algo... uma carteira que seja; vem a aflição, o desespero, a agonia; como será sem o dinheiro que foi? ... e o trabalho que surgirá para tirar novos documentos?... a mente humana constrói enredos. O tempo perdido em escrever estas histórias nos pensamentos não permite que aproveitemos o momento da morte para fortalecer o amor. O mix entre amor ao próximo e amor próprio faz transbordar os estados emocionais ocultos por debaixo dos panos da sanidade.

O Ego, estruturado e tranquilamente acomodado, é jogado ao chão e vira pó. Cresce o Id que, com sua criatividade primitiva, sussurra aos ouvidos: aquiete-se. Na quietude da reflexão a voz interior aponta. Ali. Embaixo do colchão. E ressurge a carteira.

Se Beau tivesse carteira, certamente quando descobrisse sua perda, ronronaria, deitaria e iria tranqüilizar as vísceras. Depois levantaria, ronronaria nova.mente e partiria para pegá-la embaixo do colchão.

Mas eu sou humana e, como tal, tenho vagalhões emocionais para surfar todos os segundos. Turbilhões de ondas que me levam ao vai e vem da vida sem a menor noção de onde irei parar. Lá de dentro dos ossos conhecimentos adquiridos me comandam ao “ter que saber” e a energia de controle aparece a todo instante sinalizando-me caminhos contraditórios aos meus desejos, vontades e sonhos. Quero muito isto... a vida me dá aquilo. A conformação não é o meu forte. Jamais me conformei com o que tinha em mãos; sempre quis ir além. Nesta busca incessante por algo que não sabia o que era, tropecei, caí e queimei as asas da Fênix muitas  vezes. Deixei a morte me levar... sim, porque a vida não nos leva a lugar nenhum...ela nos ajuda a construir o momento e diz; fica aqui porque já vai acabar....

Deixando a morte me levar, aprendi a dançar com meus ossos; fiz rituais nardônicos, sado masoquistas e lúgubres através dos dramas mentais que me comeram vísceras. Foram-se pedaços de mim em mesas de cirurgia. Foi-se também o núcleo da vida; meu útero. Pronto. Deu-se o impasse da encruzilhada: ou renascia ou entregava-me de vez para a desintegração molecular. Foi por amor aos próximos (meus filhos) que resolvi mudar de estrada. Busquei novas inspirações para escrever meus textos.

Resolvi atender ao chamado da vida.

Aqui é bom fazer um aparte: os movimentos vitais tanto nos conduzem à vida quanto à morte. Neles sempre há amor onde a intensidade da diluição é que dará, ou não, a concentração necessária para a construção da forma.

Porém o aprendizado de anos, séculos e milênios, registrado em meu campo cognitivo, foi muito intenso. Mesmo depois de 24 anos de estrada, pedras me jogam no chão... fazem-me perder e perder e perder...para testar o quanto já me preparei para ganhar.

Quando virá a próxima prova? O teste será muito difícil? Conseguirei ser aprovada?

Pelo menos agora sei onde e como buscar o foco da atenção: no movimento aglutinador do AMOR que forma minha matéria, de onde surgem todos os dados de sabedoria sobre mim. Preciso aprender a focar a atenção e não deixar de lado o cuidado comigo mesma. Quantas vezes já me repeti isto? Não importa. Repito mais uma vez.
Vou aprender com Beau