Por Moema Ameom
Estava deitada na rede mergulhada em imensos
vagalhões emocionais. Neles navegava com
certa tranqüilidade interior. Era um belo entardecer cuiabano. Em minhas preces
pedia força para não fraquejar diante de mim mesma.
Buscava um porto seguro para entregar-me aos
pensamentos, quando minha neta surgiu e jogou-se em meu colo. Abraçando-me
fortemente questionou: ”Porque você esta triste, vovó?” Logo a seguir, sem
espaço para a resposta, começou a falar comigo da mesma maneira como eu falava
com ela quando era bebê, ali naquele mesmo lugar: ”Olha! As estrelas estão
aparecendo! Vamos conversar com a D.Acácia para ela dançar pra você.” O vento
começa a soprar; folhas e flores da bela Acácia dão início a harmoniosos
movimentos. “ Viu só,vó! Elas estão conversando com você!” Enquanto fala me
acaricia, dá muitos beijos dizendo “vai passar tudo”.
Se havia emoção revirada, agora havia emoção
desaguada! As ondas de retorno conduziam-me a aprendizados colhidos juntas
nestes quase quatro anos de convivência onde a distância física nunca nos
impediu de ficarmos próximas.
De repente, ela sai da rede e começa a me
balançar. “Lavínia, balança de vagar. Vovó não gosta da rede indo alto. Pode
machucar você!” “Vó, precisa ser alto pra você ficar forte.” A palavra forte me desperta e eu vejo ali a
mensageira do Universo a quem havia elevado meus pedidos. Apesar dos temores,
entrego-me. Ela mostra com seus saltos e volteios que o receio focado nela era
infundado. Meus medos infantis vão surgindo; medos adquiridos pela falta da
vivência. Medos que não eram meus. Medos provenientes dos adultos que me
rodeavam. O peito aperta, a angústia surge e eu quase grito: “Pára, Lavínia!” Ela
ri, canta, dança e segue adiante! Imediatamente, algo explode em meu peito e eu
começo a respirar diferente. Um forte jato de ar me revira por dentro, a vista
turva, a pulsação acelera e ela então, com peraltice tranqüila vai parando a
rede e salta para o meu colo. Muitos beijos e carinhos. “Pronto, vovó! Vamos
brincar?”
Procuro levantar; não consigo. Vem o enjôo.
Penso: minha bela terapeuta abriu um novo caminho no meu neurovegetativo.
“Daqui apouco eu vou, querida!” Ela vai, eu fico. Os pensamentos tecem uma rede
límpida de raciocínio sobre o acontecido e imediatamente insights da minha infância surgem descortinando-me os jogos
familiares que distorceram meu caminho. Mais uma vez eles se aproximam de mim,
mas, desta vez, novos movimentos vitais me acompanham.
À noite ao me preparar para dormir, meu doce
anjo, começa a me cobrir com um lençol estampado. Diz: ”Fica bem quietinha, vó.
Preciso cobrir você.” “Mas eu estou com calor, querida!” “É pra cuidar de
você.” Depois que me cobre inteira, descobre meus pés e diz: ” Agora vou fazer
massagem pra você dormir. Massagem no pé dá sono, né vó?” Mais uma vez os
aprendizados se entrecruzam; todas as noites ela recebe massagens no corpo
inteiro dos pais. Eu recebendo o que ensinei. Paraíso!
No torpor
do sono que chega paulatinamente, olho para o lençol e vejo-o totalmente
vermelho sangue. Lembro-me que, à tarde, ao organizar o batizado do meu neto
Luke que se aproxima, vi ser esta a cor do dia em que celebraremos a cerimônia.
Pronto! Posso dormir.
Sonho com diversas situações de minha infância
em que minha mãe e minha tia faziam-me de joguete para suas “birras”
familiares. Ao acordar consigo enxergar o porquê dos vagalhões emocionais que
me jogaram na rede; uma rede que não faz parte de meu caminho mas na qual
fiquei me balançando por longos 63 anos, com medo de machucar quem me
balançava.
Novo amanhecer. Sou abençoada com a visita de
quatro papagaios que pousam diante de mim e de minha filha nos galhos da
Amendoeira do fundo do quintal. Quatro. Sobrevoam nossas cabeças inebriando-nos
com a beleza de seus vôos e gritos.
E assim o tempo FLUI!
27/10/2013
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