6 de setembro de 2013

EU

Por Moema Ameom em 06/09/2013 homenagem póstuma à minha avó Céo da Câmara e sua loucura artística – herança bendita!





Cortar a Juba do Leão, levar Capricórnio pra pastar nas águas profundas de Escorpião, não é tarefa das mais fáceis. É como jogar o anel de Sauron no magma do vulcão e voltar para casa com olhos de ver: é ser Luke Skywalker amando Darth Vader; desligar-se da Matrix fortalecendo o saber; encontrar as maravilhas de Alice sem seguir o coelho; caminhar sobre o mar vermelho de meu sangue...nadar  no ar e ser pó.

Quando digo: “O Universo conspirou a meu favor”, o que quero dizer? Acredito que, na maioria das vezes, seja: “Fiz o que quis fazer” e, de preferência como o desejei. Deparo-me com o fato de que diante Dele – O Universo – sou poeira cósmica, portanto, seja lá o que me aconteça será conspiração a favor, porque Ele não caminha para ontem. Ele constrói o amanhã; o dia seguinte. O fluxo do continuum. Nada contra. Nada para punir, castigar, amaldiçoar. Tudo a favor mesmo quando o Ego, que no meu caso brinca e briga entre com meus sonhos, se digladia com as forças ocultas da minha essência vital.

Sendo assim, coitado do Capricórnio que deverá aprender a se alimentar de água. Nada de capim para ruminar. Acabou a ruminação. Não dá nem mesmo o que mastigar porque água foi feita para engolir e lubrificar a matéria. São muitos os desencontros destes movimentos: onde nada existe, tudo brota e onde tudo busco nada encontro. Não há dependências in.mim quando enxergo que nada nem ninguém depende de mim. Não há mais compartimentos onde guardar programas, partituras, alimentos para o futuro. Não tem como depender de quem orientei a não depender. E o Om ressoa em meus ouvidos, produzindo o vácuo do silêncio.
Devo acreditar que conquistei a tão esperada (in)evolução?

É isso que eu desejava tanto? Movimento pelo qual desbravei matas, surfei ondas caudalosas, escalei montanhas, caminhei em áridos territórios e naveguei em fantasias extraterrestres?

Não será esta conquista um grande sinal de loucura? O que me diferencia daquele que está internado como doente mental? Alguns diriam: a consciência.

Muito se fala sobre esta coisa denominada consciência. EU, inclusive, criei um método e o intitulei MOITAKUÁ - Movimento Consciente. O que sei eu sobre isso? NADA.

Tornei-me profissional do NADA.

Vagueio pelos horizontes do cotidiano observando a Low.Cura dos segundos que me conduzem ao passo seguinte e me pergunto: pra que planos? Qual a função do planejamento? Será isto ter consciência? Saber o que faço, pra que e porque executo? Ou será que ao planejar eu penso sobre minhas ações e consigo ver-me nas reações internas que este pensamento me causa? Será que ter consciência significa ser capaz de me observar diante de mim mesma? Pra que serve isso?

De acordo com o contrato firmado diante do momento vivenciado irá servir para alguma coisa que eu utilizarei para realizar algo. Será que este “algo” ou “alguma coisa” está me satisfazendo de verdade? Está produzindo prazer na minha matéria? Por que tem que me dar prazer? O desprazeroso, sendo conspiração universal, também pode me conduzir ao prazer? Se fluxo é prazer...o que fazer para descobrir?

Categórica...mente...NÃO SEI.

Não aprendi a reconhecer este jogo nas minhas vísceras. Não brinquei com suas normas e regras. Sinto muito mas não sei jogar.

Então, conscientemente, estou procurando entender como faço para reconhecer, na fração do segundo o “algo” que me satisfaz, mesmo porque, caso contrário, como irei construir motivações verdadeiras para minha alma? Sendo Ela a força Motriz da minha Matrix, como gerar impulso sem nem ao menos saber o que me move? Se não sei o que....como saberei pra que? Por que?

Esta confusão fica até engraçada ao ser escrita mas, quando atinge as raias dos sentidos, joga-me no fogaréu leonino do meu ser e escurece minha visão. Vou às cegas em busca de apoio. Vou às cegas em busca de mãos que possam ser estendidas para mim. Nestes momentos, gostaria muito que tivesse a minha volta muitas pessoas dependentes de mim onde eu pudesse me agarrar.

Atenção criatura!

Não é nem nunca foi este o seu desejo. Não foi isto que pediu para o Universo. EU abri mão de tantas âncoras, saí de tantos portos seguros, abri múltiplas gaiolas, pra que? Para que agora queira ter onde me agarrar?

As pernas fraquejam. Os pés claudicam. Quero caminhar e não encontro firmeza.

Caminhe sob suas águas, guria!

Corte a juba do Leão e aqueça-se no fogo da Sol! Não a olhe dentro de você. Você não É Ela.

Sim. Sou sua filha. Sou Xintz, a fagulha curiosa que se materializou.
Uma fagulha feita de pó. Ou será o contrário? Será que pó forma fagulha?

O que ensino? O que não sei.
Como curo? Curando-me.
Como ajudo? Auxiliando-me.
Egoista...diz a massa!

Só penso em mim.
Mas...se mesmo assim ainda não sei o que fazer comigo, como fazer para não ser EGOista?
Matei meus Egos passo a passo, a cada tesourada que dava na juba do meu Leão, a cada empurrada que dava na minha Cabra montanha abaixo.

Hoje ao olhar para todas as mortes percorridas, revejo personagens, histórias, estradas, caminhos, coreografias, melodias, catalogando-as nas emoções que moldaram meus ossos.

Agarro-me à fé medular e deixo farfalhar as asas da libélula! Estou no casulo e nem mesmo sei se quero sair dele para voar.



É melhor rastejar como Escorpião dando um VIVA aos movimentos vitais!

Os desenhos/pinturas aqui apresentados fazem parte da Exposição Caveranation dos artistas plásticos Victor Rocha e Kadu 




Um comentário:

  1. Lindo deságue de emoções conscientes
    Caos de pulsação emotiva
    Emoção de águas caudalosas
    Consciência caótica objetivada!

    Belo texto!

    R.B.

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