22 de julho de 2014

Balneário Camboriú - viagem e conquistas

A janela fica no prédio verde ao fundo.
Há um ano aqui estive, neste mesmo ponto da cidade. Da janela observava caminhos que desejava percorrer, mas os males de minha perna esquerda não me permitiam. Tornozelo e joelho prendiam-me a uma locomoção restrita. Guardei no coração os desejos. Transformei-os em motivações internas de cura.
Hoje, já recuperada, propus-me realizá-los; motiv in action.

Caminho a ser percorrido. Ao fundo a praia. 
 

Sonho e realidade  












Ao passar pelo viaduto sobre a Marginal Leste, o aprendizado começou.
Viaduto sobre a marginal leste
"Marginal"... devido ao fato de estar à margem do centro da cidade? Ou será que se torna marginal por impulsionar os seres humanos para velocidades muito além de seus biorritmos gerando busca desenfreada por um tempo cronológico que os sufoca? Que os coloca a margem da vida, à margem de momentos vividos em profundidade?!

O pensamento vagueia: como fazer para comercializar algo que conduz a uma conscientização sob margens internas onde pulsa a essência, marginalizadas por uma sociedade consumista? Como dar preço ao que nem mesmo é considerado tão valioso assim? Dar tempo ao tempo vem como resposta.

Sigo percebendo meus pés... como é bom tê-los de volta! Como é delicioso sentir-me sobre eles deixando-me evoluir em passadas onde os dedos do pé de trás me impulsionam em ritmo compassado e harmônico com o pulsar do coração, sem alterar o ritmo da respiração. Perceber que ao expirar, o impulso se faz presente em fluxo e refluxo. Braços em pêndulo navegam no ar; mãos atentas seguram bolsa e garrafa d’água onde dedos curiosos pesquisam suas presenças em pesos distintos. A mandíbula afrouxada me permite sentir os nano movimentos da língua e sua umidade. O ar acaricia os lábios. Simples exercícios para aguçar a percepção sensorial e ampliar a conscientização dos movimentos motores conectando a mecânica a cognição através dos (in)fluxos nervosos.

Passo pela Av. Brasil e chego na Av. Atlântica.
Como são interessantes os nomes homônimos!
Não estou no Rio de Janeiro. Se lá estivesse não poderia fazer esta proeza; andando em linha reta passar por uma e chegar à outra. Olho para a Av. Brasil em nada parecida com aquela de lá: outra visão do mesmo país. Nesta de cá não é preciso que haja semáforos (viva São Paulo!)  piscando verde, amarelo e vermelho; os sinais de trânsito são riscas brancas pintadas no chão que delimitam o espaço onde atravessar. Como na Europa, os carros param.
Será que com José e José também existem diferenças? Em fulano pai e cicrano Jr. também?
A Atlântica me lembra a dos anos 60 quando eu, pré-adolescente, vivia em Copacabana. Avenida de mão única com a areia bem pertinho da calçada. Este mar tranquilo, em nada se parece com aquele de lá cujas ondas, quando em ressaca, inundavam o asfalto que se transformava em rio salgado. Passado funde-se ao presente conduzindo-me ao futuro do outro lado da rua.

Cheguei!
Mar límpido, céu azul e Lós resplandecente em seu reinado. Pessoas encapotadas passam por mim. Será sugestão da estação? De onde vem este frio tão intenso que sentem?
Lembro-me de alguém que um dia me disse: “Você sabia que a alma é gelada?” Será? Mesmo quando deixa de ser pequena? Ou melhor, mesmo quando passa a ocupar todo seu território – matéria orgânica -?


Vou me aproximando. Crianças com medo de colocar os pés no chão porque o sentem frio. Medo de sentir sensações estranhas; medo da reação que elas causam; medo empalhado nos olhos de todos; espelhos d’alma embaçados. Adultos impedindo movimentos infantis, colocando-os em carros enfeitados, coloridos, atraentes que acomodam pernas e pés em crescimento. Amanhã estarão dentro de carros velozes nas marginais leste ou oeste indo para norte ou sul sem consultar bússolas; existe o celular para me dizer o que fazer. Ficarão vendo a vida passar pela janela? Desejarão conquistar seus desafios e riscos? Sem exercitar os mecanismos motores será impossível. Não dá pra arriscar-se sem assimilar segurança física. Melhor acomodar-se na frente do computador aprendendo o que é se mover.

Sigo até o mar. Ninguém na água. Um marzão todo pra mim. Agradeço neste instante ao meu pai terrestre, Heraldo, que me ensinou a tomar banho frio; que me a.cor.dava cedo pra enfiar os pés na areia, dançar com os pássaros e mergulhar nas águas quase sempre bravias. “É só respeitar as ondas que elas respeitam você”.
Mergulho, nado, bato pernas e braços, brinco com o brilho azul que me rodeia. Celebro a alegria de poder estar ali depois de uma caminhada que há um ano era impossível. Exercito o gelo da alma no corpo revitalizado pelas lembranças; enri(a)queço-me.

Saio do mar sob olhares espantados.

Preparo-me para voltar.
Ao vestir minha camisa, presenteada por amigo querido quando estava no alto da alta montanha, leio: GreenPeace. Será verde a paz? Creio que sim, pois esta é a cor do chacra cardíaco que ao irradiar sua potência energética pela vértebra dorsal, emana ondas de equilíbrio pelos ossos dos braços; quando estas chegam aos dedos das mãos, produz equilíbrio emocional trazendo a paz.
Sim.
A paz é verde como as matas e a comunicação entre ela e o coração, azul e branca. Na consciência brilha o amarelo dourado de Lós entrelaçada apaixonada.mente ao tom prata de Aul.
Preparo-me para o retorno.
Mesmo trajeto.

Vou observando a profusão de nomes brasileiros: Farah, Ranzi, Wiesel, Hoffmann, Müller. Pátria amada idolatrada salve, salve! Miscigenada, embolada, caótica.
Enquanto imaginarmos que caos é sinônimo de bagunça e desorganização; enquanto não aprendermos que ele nos proporciona organização sistêmica por equalizar os processos autônomos viscerais, não seremos capazes de assimilar a ordem e progresso da nossa etnia multidisciplinar. Continuaremos a utilizar os pulsares da curiosidade para experimentar tudo que nos atrai; a trocar preciosidades internas por balas de festim, palavras jogadas ao vento. Podemos até imaginar que o “tudo” é o “todo” e chamar de “holístico”, mas o Holo aproxima; não mistura. Na rede das energias infinitamente criativas, o “fazer muitas coisas” é substituído por “fazer muito com poucas coisas”. Como o fazem as árvores, por exemplo.

Quase chegando à passarela, leio a frase de uma imobiliária: “Os edifícios evoluem porque as pessoas evoluem”. Quer dizer que devo comparar a evolução humana aos prédios que vi na orla da praia? Sim! Esqueci que já chegamos na lua!   Talvez por isso o senso de humanidade esteja cada vez mais escasso. Estamos todos virando ETs – Extra Terrestres. Apostamos tanto na verticalidade que desaprendemos o que é contato com as raízes. No flow!

Estou chegando: começo a revisar meu passeio. Na ida percorri o trajeto em 30 min. Fui bem devagar observando cada mínimo detalhe da minha lo(u)co(a)moção. Na volta o mesmo trajeto fiz em 15 min. Ao aplicar bem a potência de minha máquina, afinando o instrumento que sou eu, o poder aumentou e eu ganhei, lucrei muito mais.
Ganhei tempo, mas não me tornei marginal de mim. Talvez até possa ser considerada por alguns como estando à margem da sociedade, mas isto não é assunto que me interesse.
Meu interesse do instante encontra-se neste pequeno/grande sonho realizado!




 

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